TUDO COMEÇOU com um problema de
disponibilidade do sistema, que teimava em se manter instável
quando era mais requisitado. O conserto se tornou um ambicioso
projeto de integração que envolveu a infra-estrutura de cerca
de 100 filiais da AGF Brasil Seguros em todo o país. Antes
espalhados, os sistemas foram centralizados na sede da
empresa, em São Paulo. O resultado: redução de custos
operacionais, mais segurança, melhoria no atendimento ao
cliente e rapidez no acesso às informações. Só o backoffice
permanece nas subsidiárias.
Até dezembro de 2002, quando um segurado do
interior do Mato Grosso, por exemplo, tinha o carro roubado
durante a madrugada e ligava para a AGF, o jeito era torcer
para que a filial que fez a venda do seguro estivesse
funcionando. Caso contrário, o atendimento se realizava sem o
cadastro do cliente.
“Além disso, o final do processamento
contábil de cada uma das filiais era feito num servidorzinho
que levava três dias para concluir a tarefa”, afirma Adalberto
Ferrara, diretor de TI da AGF, a sexta colocada do mercado
brasileiro em prêmios emitidos. Mas, desde abril do ano
passado, o cenário é outro. Com um sistema em operação full
time, a empresa criou uma disciplina de gestão de TI, com
processamentos em horários diferenciados, para não comprometer
a performance. Foram criados um data center e um backup center
que rodam em servidores Risc, e a seguradora aumentou sua rede
de dados de 35 para 110 unidades de atendimento, entre
filiais, inspetorias e representações. A contradição é que há
dez anos o caminho percorrido havia sido justamente o inverso.
O sistema, antes centralizado, foi desmembrado para as pontas.
“Essa distribuição foi feita porque as linhas telefônicas não
eram nem um pouco confiáveis”, diz Ferrara.
O
processamento unificado deve permitir à empresa crescer
sem investir muito em sistemas e TI em 2004
O projeto foi implementado pela consultoria
Siscorp, escolhida pelo know-how no mercado de seguros.
“Quando iniciamos o projeto, não havia cases desse porte.
Colocar 50 bases distribuídas para rodar em apenas uma
supermáquina era como apostar todas as fichas numa jogada
única”, diz Flávio Fangion, sócio-diretor da Siscorp. Iniciado
o projeto, uma medida de contingência foi montada para
reativar o modelo antigo caso algo desse errado. “Quando se
convence a matriz a fazer uma mudança desse porte, seria muito
duro amargar uma frustração no meio do caminho”, afirma
Ferrara.
Mas não foram poucas as ocasiões em que a
equipe correu o risco da frustração. Após a sexta filial
integrada na nova plataforma, o projeto começou a apresentar
problemas. “A curva de utilização ia subindo, subindo e
parava. Tínhamos dúvidas se era problema de gargalo, do
sistema ou de máquina”, afirma Ferrara. Após uma longa
madrugada de trabalho, foi identificado que o banco de dados
não estava configurado para suportar a carga. Resolvida a
questão, a saga continuou de maneira mais amena. O outro
desafio foi dimensionar os equipamentos. Para isso, a AGF
contou com a IBM, que calculou como deveriam ser as máquinas.
Com o novo sistema no ar, o segundo passo foi mostrar o novo
modelo de trabalho aos cerca de 10 mil corretores em todo o
Brasil. Eles receberam CDs para a instalação do programa em
suas máquinas. Depois de preencher as propostas de seguro,
eles já podiam acessar o Portal do Corretor e enviá-las. Hoje
a AGF recebe 75% das propostas de modo eletrônico. Para os 25%
restantes, os formulários vêm com um código bidimensional que
é lido pelo scanner, o que dispensa a digitação.
A centralização dos sistemas foi o primeiro
passo da empresa para concentrar na sede, em São Paulo, outras
atividades. As informações registradas no sistema único
alimentam a intranet, que dispõe de dados como o volume de
apólices vendidas no mês ou o tipo de serviço mais prestado em
cada região do país. “A internet passou a ser uma malha que
integra tudo”, diz Ferrara. Agora, além da interface mais
amigável, os usuários têm a possibilidade de gerenciar o
conteúdo, e, assim, deixam de depender da TI.
De olho no aumento de vendas, a seguradora
está alterando mais uma vez seu modelo operacional. Para
facilitar a vida dos corretores, um call center foi criado com
70 pontos de atendimento. “A intenção é aumentar o nível de
serviços aos corretores, que são nosso canal de vendas. Vamos
transformá-los em homens de negócios”, diz Ferrara. Um projeto
que centraliza o processo de emissão de apólices, hoje
responsabilidade das filiais, também está em andamento. O
sistema já integra as apólices da capital, do interior de São
Paulo e Rio de Janeiro, mas em breve se estenderá a Minas
Gerais, Rio Grande do Sul e Nordeste. A AGF desembolsou 5,4
milhões de reais com a compra de máquinas Unix, da IBM,
storage da EMC, um robô de fitas da StorageTek, e ainda com o
desenvolvimento das aplicações e as adaptações para rodar de
modo centralizado. Ferrara acredita que a centralização abre
novas frentes para a companhia. “Com o sistema unificado,
nossa chance de crescimento orgânico é maior. Temos condições
de abrir novas filiais investindo menos, já que não há custos
altos com sistemas locais e equipe técnica”, diz Ferrara.